lundi 14 mai 2012

DESEJO


quando olhos olham nos olhos
corpos falam o que os olhos vêem
olhos vêem o que os corpos falam
a natureza costuma delatar farsantes
expor a força dos desejos
impor a beleza dos astros
aos caminhos que a mente induz
para movimentar troncos e membros
todo desejo implica perdas
toda perda implica ausência de algum desejo
todos os dias a gente cessa alguma coisa
que os nossos olhos deixam de ver
que nosso corpo deixa de sentir
no momento em que
um olho olha um olho
um corpo quer um corpo
um olho quer um corpo
e um corpo
um olho
na súcia da volúpia da carne no prazer
quando o desejo se frustra
se ausenta na falta de impulso
a energia dentro de nós pode levar a memória
mas o corpo vai sentir para sempre o pedaço que deixou de unir
nos olhos do corpo seu
no corpo dos olhos seus
no corpo dos olhos meus

(Henrique Alberto de Medeiros Filho)