mardi 1 janvier 2013

Por onde anda o seu pensamento?


(by Fernanda Dannemann)

A minha mente é um cavalo selvagem, e montada nela é que vivo neste mundo.

Todo cuidado é pouco quando se trata deste cavalo, porque ele tem vontade própria e, se não for domado, é capaz de me conduzir a qualquer lugar, inclusive aos piores: houve um tempo em que vivi por lugares terríveis, ao lado de más companhias e num inverno glacial e sem fim. Não me dava conta de que sair dali dependia unicamente da minha própria decisão; bastava, apenas, um pouco de força de vontade. E, claro, de decisão.

Certa vez, eu voltava para casa caminhando por uma rua linda e cheia de árvores, quando, de repente, quase que por milagre, me dei conta de que a tarde estava linda: senti o calor daquele dia, vi a luz do sol entre as folhas, as pessoas com suas roupas coloridas, o sorveteiro, os cachorrinhos, o portão da escola, as crianças, os carros passando, o mar lá adiante. Foi um susto, uma surpresa. E então olhei para dentro de mim e cheguei a sentir a umidade daquela rua escura que eu habitava, cheia de gente desesperada e sem a esperança de uma manhã gloriosa. Uma rua perdida na noite, onde eu me sentia (e era, de fato) prisioneira dos meus sentimentos ruins: a autopiedade, o pessimismo, o ressentimento.


Foi naquele momento que me dei conta de que, ainda que a realidade esteja difícil, temos que tomar conta, o tempo inteiro, de por onde vai a nossa mente. Domar o cavalo selvagem e irracional que temos em nós, mas que também é forte, veloz, voluntarioso... feito só de impulso e instinto. Fazer dele um servo, não permitir que ele seja o senhor. Entendi o que quis dizer um mestre budista que conheci certa vez, quando aconselhou:

-- Vigiai!


E passei a vigiar a minha mente, a recusar os pensamentos destrutivos da mágoa, da desesperança, do medo e da angústia. Quando o cavalo entra por estas ruas, eu o conduzo pelos caminhos da alegria, tratando logo de evocar uma lembrança feliz ou uma expectativa boa. E mesmo que ele tenha relutado no começo, rapidamente se deixou domesticar, porque tudo nesta vida é uma questão de treino e de persistência.

Quando dei por mim, já habitava outro mundo, e meu cavalo seguia manso sob o meu comando, levando-me somente a lugares em que eu era feliz por estar. Hoje conheço sua força e sei lidar com ela: entendo bem sobre os seus perigos e armadilhas, afinal, sua essência é a de um animal selvagem. Mas o mais importante de tudo, é que descobri também a minha força, e entendi que nada pode ser mais veemente que a vontade de ser feliz.